Por:Jornal NC - Publicado em 13/05/2020
Saber que está infectado com a Covid-19 ou que está sob suspeita não é nada fácil. O medo toma conta, principalmente quando se observa a evolução rápida da doença e suas possíveis complicações. Diante dessa situação, ainda há outro agravante: o isolamento domiciliar.
Uma pessoa infectada ou sob suspeita precisa tomar uma série de medidas de prevenção dentro de sua própria casa para não contaminar a família. O isolamento domiciliar é ainda mais dramático do que o social, já que durante 14 dias, pelo menos, exige-se que a pessoa permaneça em apenas um cômodo da casa, não compartilhe objetos, mantenha rígidos métodos de higiene do corpo e de tudo o que toca, não se aproxime dos demais, dentre várias outras medidas. O medo soma-se aos inevitáveis sentimentos de incerteza e solidão.
Ciente disso, os psicólogos que compõem a diretoria de Saúde Mental da Coordenadoria de Atenção Básica à Saúde (Cabs) de Barueri estão, desde abril, realizando atendimentos junto aos pacientes em isolamento doméstico. São ao menos três “encontros”, sejam por telefone ou por videochamada, como o paciente preferir, com duração de 30 a 45 minutos. O protocolo de atendimento estabelecido em conjunto entre os profissionais define que o contato inicial deve ocorrer entre o primeiro e o terceiro dia de isolamento.
“Nas Unidades Básicas de Saúde o monitoramento é realizado em parceria com a enfermagem, que também monitora a evolução clínica e os sintomas dos pacientes. Do ponto de vista da saúde mental, a ideia é propiciar uma escuta qualificada acerca dos sentimentos que emergem nesse momento, além do acolhimento das demandas, reforçar e, principalmente, manter o contato e a vinculação com a unidade de saúde, bem como reforçar a importância da manutenção do isolamento”, explica a diretora de Saúde Mental do município, Ana Paula Briguet.
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Monitoramento constante
A equipe de enfermagem da Cabs já realiza um monitoramento junto a todos os pacientes confirmados ou com suspeita de Covid-19 por meio de ligações telefônicas a cada 48 horas. Os pacientes com maior demanda psicológica são indicados à Saúde Mental, que entra em cena. Atualmente, são cerca de 555 pacientes recebendo o atendimento psicológico. A abordagem tem respaldo do Conselho Federal de Psicologia, que tem realizado um cadastro prévio de quem pode realizar esse tipo de atendimento. O sigilo entre médico e paciente também continua garantido nesse modelo de consulta. A psicóloga Dailza Pineda compõe a equipe que elaborou as novas estratégias e que têm feito esses atendimentos e menciona a urgência desse tipo de assistência em diversas frentes. “Sabemos que as questões de cada um tendem a se acentuar, estamos todos emocionalmente abalados de alguma forma. Quem tem questões mais emergentes relativas à saúde mental pode estar piorando dentro de casa, isolado. Sabemos que as redes de apoio, como familiares, amigos, trabalho, muitas vezes são responsáveis por nos manter firmes e saudáveis. Por isso, neste momento onde isso tudo pode estar mais fragilizado, não podemos nos omitir. A gente precisou desenvolver alguma estratégia de suporte, ainda que a distância. Ou seja, uma oportunidade de manter a escuta e, com ela, trabalhar na (re)construção de saúde para cada uma das pessoas que atendemos e que nos trazem as mais diversas questões”, explica. Dificuldades de adaptação à nova rotina, insegurança com a própria saúde e com a possibilidade de infectar outros, medo da perda, além de questões trabalhistas e de desemprego têm sido recorrentes durante as consultas nesse período. Mas Dailza ressalta que, muitas vezes, a pandemia serviu apenas como estopim de algo que já estava lá.
Suporte emocional a quem precisa
Pessoas em isolamento que sintam a necessidade de um acompanhamento psicológico podem solicitá-lo junto ao profissional da UBS que faz seu monitoramento. Além das consultas psicológicas voltadas às pessoas em isolamento, a Saúde Mental também tem se dedicado ao atendimento de pacientes que já recebiam esse tipo de assistência nas UBSs, só que agora a distância, também por telefone, computador e vídeo. Há também um outro projeto em andamento, que oferece suporte psicológico aos profissionais da saúde.
Neste caso, são direcionados a eles psicólogos que não atuem na mesma unidade e que não tenham vínculo direto, por questões éticas.
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