No desmatamento atual, Amazônia chega a ‘ponto de não retorno’ em até 30 anos, diz pesquisador referência sobre clima

Os dados do Prodes levam em conta o período de agosto a julho por conta do ciclo de chuvas da região



Por:Jornal NC - Publicado em 19/11/2019

 No desmatamento atual, Amazônia chega a ‘ponto de não retorno’ em até 30 anos, diz pesquisador referência sobre clima

O desmatamento pode estar levando a Floresta Amazônica para uma situação na qual a floresta não consegue mais se regenerar diante das agressões provocadas pelo homem. Se o ritmo atual de devastação for mantido (ou aumentar), este “ponto de não retorno” pode chegar já em algum momento entre 15 a 30 anos. O alerta é de um dos principais estudiosos do tema no país, o climatologista Carlos Nobre.
Nobre conversou horas depois do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelar um aumento de 29,5% no ritmo do desmatamento da Amazônia entre agosto de 2018 e julho de 2019.
Segundo o sistema Prodes, do Inpe, o país perdeu 9.762 km² de floresta neste período — ante 7.536 km² desmatados na medição anterior. A taxa divulgada nesta segunda é a maior desde 2008, quando quase 13 mil km² de floresta foram destruídos.
Os dados do Prodes levam em conta o período de agosto a julho por conta do ciclo de chuvas da região.
Segundo Carlos Nobre, há evidências de que o “ponto de não retorno” está prestes a ser atingido em alguns locais da Floresta Amazônica, especialmente nas regiões sul e leste da floresta a estação seca do ano está ficando mais longa nesses locais, e a temperatura está subindo. Os dados sobre o desmatamento na Amazônia tornaram-se fonte de desgaste para o governo em julho e agosto deste ano, quando medições preliminares de outro sistema do Inpe, o Deter, apontaram para um crescimento do desmatamento. Em 19 de julho, num café da manhã com jornalistas, o presidente da República, Jair Bolsonaro, disse que os dados preliminares do Inpe não eram corretos — e que o então presidente do Instituto, o físico Ricardo Galvão, estaria “a serviço de alguma ONG (organização não-governamental)”.
A crise resultou na demissão de Ricardo Galvão do comando do Inpe, no começo de agosto. Agora, diz Carlos Nobre, as informações do Prodes (que tem nível de confiança superior a 95%) confirmam as suspeitas levantadas pelo Deter sobre o aumento no desmatamento.
“Era muito correto afirmar que haveria um aumento muito significativo do desmatamento, e o Prodes confirmou. Não há dúvida disso”, disse.

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Os dados divulgados na segunda-feira não dizem respeito somente à gestão de Jair Bolsonaro, iniciada em janeiro de 2019. Mesmo assim, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, admitiu em entrevista a jornalistas que será preciso “adotar uma estratégia diferente”, articulada com os governos estaduais, para combater o aumento no desmatamento. Jair Bolsonaro tem criado polêmicas com ambientalistas desde a campanha eleitoral de 2018.
Durante a campanha, disse repetidas vezes que não faria a demarcação de novas terras para indígenas e quilombolas, além de criticar o trabalho da fiscalização ambiental. Depois de eleito, enviou ao Congresso medida para fundir a pasta do Meio Ambiente com a Agricultura — mas a proposta foi rejeitada. Mesmo assim, alterações na estrutura do órgão fizeram com que o Meio Ambiente perdesse quase 20% de seus analistas. Já no Ibama, os sinais emitidos por Brasília e a falta de dirigentes nas unidades do órgão fizeram com que o número de multas caísse apesar do aumento do desmatamento. Carlos Nobre é doutor em meteorologia pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), e já presidiu o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, além de ter integrado o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, o IPCC.

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