Por:Jornal NC - Publicado em 12/01/2017
A Organização das Nações Unidas (ONU) pediu que as autoridades do Amazonas investiguem de forma “imparcial e imediata” as mortes de 56 detentos no Complexo Prisional Anísio Jobim, em Manaus (AM).
Além de destacar que as investigações devem levar “os responsáveis à Justiça”, a entidade exigiu mudanças nas penitenciárias.
A organização lembrou ainda que em 1992 o Comitê de Direitos Humanos declarou que o tratamento humano deve ser referência para todos os países em todas as condições.
A rebelião foi resultado da rivalidade entre duas organizações criminosas que disputam o controle de atividades ilícitas, como o tráfico de drogas, na Região Amazônica: o Primeiro Comando da Capital (PCC) e a Família do Norte (FDN),aliada ao Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro.
O local abrigava 1.147, sendo que a capacidade era de 450 detentos, uma superlotação de 254%, de acordo com o documento enviado pela Secretaria de Direitos Humanos ao Ministério Público Federal em janeiro de 2016.
Entenda
É inevitável entrar no presídio onde 56 pessoas morreram no primeiro dia do ano e não lembrar os vídeos de extrema violência que foram compartilhados em redes sociais na última semana. Gritaria, explosões, tiros e corpos esquartejados e carbonizados amontoados.
No Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj) e na cadeia pública Raimundo Vidal Pessoa, onde quatro pessoas foram mortas dois dias após a primeira chacina, a primeira barreira para entrar no Compaj está posicionada a 2 km da entrada. Neste ponto, cerca de 200 parentes e amigos de presos se reuniam debaixo do sol forte da terça-feira na capital amazonense. Ao lado de equipes de TV, eles estavam em busca de informações e faziam protestos para ter o direito de levar comida aos presos, que não recebem visitas desde a matança.
Urina, fezes e mofo
Do Compaj até a cadeia pública Raimundo Vidal Pessoa - onde quatro pessoas foram mortas em rebelião no último domingo - são cerca de 30 km de distância. A estrutura externa do presídio centenário é tomada pelo mofo.
A unidade foi desativada em outubro de 2016 justamente por ter problemas graves na estrutura. Mas precisou ser reaberta dois dias depois da matança no Compaj para receber presos que corriam risco de morrer.
Do lado de dentro, há um forte cheiro de lixo, fezes e urina. Apenas uma grade, protegida por um guarda armado, separa o portão de entrada do contato direto com parte dos presos.
Eles passam a fazer suas reivindicações em voz alta. “Por favor, nos ajudem! A gente não tem nenhum item de limpeza pessoal e, para piorar, estão fechando nossa água. A gente fica com tanta sede que chega a tomar água do vaso sanitário”, diz um deles.
Outro mostra sua perna machucada. Assim como ele, outros presos mostram marcas que herdaram da chacina no Compaj, e pedem para que sejam levados a um hospital. Também há reclamações de hipertensos e diabéticos sem remédios.
Mas a maior parte dos pedidos são de transferências por presos que temem ser decapitados por seus inimigos a qualquer instante. Horas mais cedo, 20 presos transferidos no dia anterior para uma cadeia em Itaquatiara, a 270 km de distância da capital, voltaram para a Manaus.
Do lado de fora, familiares choravam de preocupação com a possibilidade de haver um novo motim na unidade e seus parentes acabarem mortos. Uma mulher chegou a se ajoelhar para pedir que não colocassem esses presos na mesma unidade.
Alagamento de urina
Não foi possível verificar com detalhes a estrutura onde os presos estão. Os três cômodos usados pelos funcionários para dormir, assistir televisão e comer ficam próximos ao banheiro.
A água do banheiro alagou toda a área dedicada aos trabalhadores. Os colchões estão molhados, sujos e velhos.
Pedaços da parede estão caindo e parte do teto já não tem mais forro. O local quase não tem ventilação e estava com muitos mosquitos. Mas nem tudo estava em péssimas condições. O sinal e a velocidade da conexão estavam ótimos.
Ala Feminina
Na área feminina do Compaj, a situação é um pouco melhor. A maior parte delas tem perfumes, cremes, maquiagem e até ventilador.
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