O governo de Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesta terça-feira uma reforma expressiva no mercado de vales-refeição e alimentação, marcando mais um capítulo da intervenção estatal em setores tradicionalmente dominados pelo setor privado. O decreto reduz para 3,6% o limite de cobrança das operadoras de cartão no setor — que até então praticavam taxas próximas a 8% — e encurta o prazo de liquidação de 30 para 15 dias. A decisão atinge mais de 22 milhões de trabalhadores, com uma movimentação anual de cerca de R$ 170 bilhões, concentrada em quatro grandes empresas. A articulação política que antecedeu a medida revela duas vertentes da gestão: ao mesmo tempo em que busca mostrar efetividade social e foco no trabalhador, reforça a presença estatal como regulador estratégico da economia.
Para o governo, as mudanças devem aumentar a concorrência, reduzir custos e trazer maior transparência. Já críticos do setor financeiro enxergam a medida como um sinal de que a “agenda regulatória” do governo ganhará peso nos próximos anos. O alerta do banco Goldman Sachs sobre a necessidade de disciplina fiscal no pós-2026 ganha relevância nesse contexto. Segundo analistas, manter a estabilidade das contas públicas brasileiras exigirá um superávit primário acima de 2,5% do PIB, sob risco de agravamento da dívida, que atualmente gira em torno de 78% do PIB e pode chegar a 84% até 2028.
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O alerta coincide com o momento em que o governo acelera programas sociais e medidas regulatórias com forte apelo popular, aumentando a pressão sobre as contas públicas. O pano de fundo das medidas é o cenário eleitoral que se aproxima: com a corrida presidencial marcada para 2026, o governo busca consolidar apoio popular mostrando resultados concretos, ao mesmo tempo em que precisa preservar a credibilidade econômica junto aos investidores. O desafio é equilibrar agenda social e disciplina fiscal, garantindo que intervenções mais intensas não comprometam a confiança do mercado.
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